Pode-se
dizer que o Guia do participante do Enem apresenta considerações muito
úteis e importantes a respeito da redação. Todo candidato deveria ler com
extremo cuidado as recomendações do Guia, pois, além de serem muito
fáceis e acessíveis, constituem uma verdadeira aula, ou mesmo um curso, a
respeito de como redigir um bom texto.
O
ponto alto do documento refere-se à estruturação da redação, ou seja, à maneira
como um texto argumentativo-dissertativo deve ser montado. Partindo do
princípio de que o candidato deve defender uma tese ou uma opinião a
respeito do tema proposto, o guia explica com muita clareza o que se
entende por esses conceitos. Em seguida, reforça a necessidade de o candidato
apresentar argumentos consistentes estruturados de forma coerente e
coesa, com a finalidade de formar uma unidade textual. Por fim, o documento
leva o aluno a elaborar uma proposta de intervenção social para o
problema apresentado no desenvolvimento do texto.
Igualmente importantes são as diversas
competências arroladas no documento para que o aluno faça uma boa redação. Há
também inúmeras informações sobre critérios de avaliação, discrepância de
pontuação entre os avaliadores, redações que merecem nota zero, fuga ao tema proposto
e número de linhas. São muito claras as explicações sobre coerência e coesão
textuais, estruturação de parágrafos e períodos, referenciação como elemento de
coesão, etc. Os conselhos e sugestões não param por aí, daí a real necessidade
de os candidatos lerem esse Guia com muita atenção.
Por outro lado, o documento peca com
relação a um aspecto muito polêmico do ensino de Português. Não fica claro no Guia
se o candidato precisa ou não, saber gramática para fazer uma boa redação. Numa
primeira interpretação parece que não, pois não há nenhuma recomendação com
relação a isso. No entanto, o documento não consegue se libertar do ranço
gramatical que ainda ronda as nossas salas de aula. Vejamos algumas passagens
do Guia em que são citados alguns pontos da gramática tradicional:
Obediência às regras de:
- concordância
nominal e verbal;
- regência nominal
e verbal;
- pontuação;
- flexão de nomes e
verbos;
- colocação de
pronomes oblíquos (átonos e tônicos)...” (p. 12);
“Esse processo pode ser expresso por
pronomes, advérbios, artigos ou vocábulos de base lexical...
“... substituição de termos ou expressões por
pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos, advérbios que indicam
localização, artigos...” (p. 20)
“...frase com
apenas oração subordinada, sem oração principal...”
“...emprego
equivocado do conector (preposição, conjunção, pronome relativo, alguns
advérbios e locuções adverbiais)...”
“...emprego do
pronome relativo sem a preposição...”
(p. 21)
“Esse domínio pode ser
comprovado pelo respeito... às regras de concordância nominal e verbal; às
regras de regência nominal e verbal... (p. 27)
A pergunta que todo candidato deve estar fazendo é a seguinte: Preciso estudar gramática para fazer uma boa redação? O Guia é omisso com relação a esse assunto. O aluno precisa, sim, dominar a norma escrita, mas, para isso, não precisa dominar a nomenclatura gramatical. É essa a posição do Guia do participante? Se é essa a posição do Guia, como tudo indica, para que aterrorizar o candidato com assombrações como preposição, conjunção, advérbio, locução adverbial, artigo, pronome relativo, pronome pessoal, pronome possessivo, oração principal, oração subordinada, concordância nominal, regência nominal, etc.?