Depois
que escrevi sobre o papel dos cursos de Letras na última postagem, tive acesso
a dois interessantes textos que tratam do mesmo assunto. Um leitor anônimo
deste blog – a quem muito agradeço – me indicou um texto do Prof. Marcos Bagno
intitulado A catástrofe dos cursos de Letras, publicado em 2008 na revista
Caros Amigos, mas que está ainda no seu site.
O Prof.
Marcos Bagno levanta alguns problemas cruciais em sua mensagem. Depois de
chamar a atenção para o fato de que os alunos de Letras são egressos de
camadas menos privilegiadas e menos
escolarizadas da população, o autor afirma que esses alunos muitas vezes não
sabem sequer escrever adequada e corretamente quando entram para o curso
superior . Os conhecimentos linguísticos que demonstram são baixíssimos. No
entanto, os cursos de Letras, principalmente as faculdades de Letras federais,
fazem vistas grossas a esses problemas e fingem que os alunos são “ótimos
leitores e redatores”. Em consequência disso, despejam sobre eles, logo no
início do curso, teorias sofisticadas recém-importadas da Europa e dos Estados
Unidos. Há poucos dias, um aluno me disse que os professores “fazem de conta”
que todos entram para a faculdade sabendo gramática e que deveriam saber
análise sintática. Ó! Ledo engano! Que aluno hoje sabe gramática, se a maior
parte dos professores de português do ensino básico também não sabe?
Os cursos
de Letras deveriam ter pelo menos dois anos – como sugere o Prof. Marcos Bagno
– de disciplinas intensivas de leitura e produção de textos (e eu acrescentaria
o estudo da gramática tradicional, pois o professor de português, esse sim,
precisa conhecer a estrutura da língua).
O outro
texto é do Prof. Luciano Mendes de Faria Filho, intitulado Formação de
professores, publicado no jornal Estado de Minas, de 24/04/12.
O artigo
trata da formação de professores de um modo geral e não, de professores de
português. O articulista refere-se primeiramente a uma crítica que tem sido
feita às universidades pelo fato de elas darem mais importância aos cursos de
pós-graduação do que aos de graduação. Essa atitude parece repetir uma
“tendência tendenciosa” do governo federal em proteger e valorizar os cursos
mais “elevados” – pós-graduação e graduação – em detrimento da formação básica,
de fundamental importância para o ingresso do país no grupo seleto dos países desenvolvidos.
Um
aspecto interessante do artigo diz respeito ao fato de que uma mudança de
atitude com relação a esse problema tem sido atribuída a uma vontade individual
do professor, quando, na verdade, deveria ser tratada como um problema
estrutural da universidade. Falta, porém, aos colegiados das escolas de
licenciatura, bem como às autoridades universitárias e educacionais de um modo
geral, vontade política para mudar esse status quo.
Outro
problema levantado pelo autor está relacionado com o papel do professsor e do
pesquisador. “A formação de professores requer profissionais de competência e
sensibilidades muito distintas dos pesquisadores.” Acho incrível como as nossas
autoridades educacionais não enxergam esse problema. Na área de Letras, chega a
ser ridícula a posição de certos linguistas, o que vale dizer, de certos
pesquisadores com relação ao ensino de português. Os pesquisadores-linguistas
devem se preocupar com a língua natural, ao passo que o professor de português
deve se preocupar primordialmente com a língua padrão. Mas esse é assunto para
as próximas postagens.
Termino
com estas palavras do Prof. Luciano Mendes de Faria Filho: “...é difícil servir
a dois senhores, a pesquisa acadêmica de ponta e a formação de
professores”.