quarta-feira, 9 de maio de 2012

Para que servem os cursos de Letras?


            “A formação do professor de educação básica é a base da proposta pedagógica da Faculdade Letras (da UFMG) e sempre constituiu, desde a sua fundação, a sua vocação principal.” Certo? Errado.

            Apesar de a citação ter sido extraída de seu Projeto Pedagógico, a Faculdade de Letras da UFMG – bem como inúmeros cursos de Letras espalhados por este país – não se preocupa com o ensino básico (fundamental e médio). A missão principal desses cursos deveria ser a de formar professores. Dos mais de mil alunos que procuram a nossa Faculdade em cada período letivo, setenta por cento, aproximadamente, optam pelo diploma de licenciatura em português, ou seja, desejam ser professores do nosso idioma. No entanto, esses alunos não são preparados adequadamente para o exercício do magistério.

            Um simples exame das disciplinas e das ementas que são lecionadas na Fale/UFMG nos dá a ideia da dimensão do problema. Os professores se preocupam muito mais com as últimas teorias linguísticas que são geradas na Europa e nos Estados Unidos do que com a formação realística dos alunos. Nossos alunos, de um modo geral, são fracos e muitos escolhem o curso de Letras, porque a exigência do número de pontos no vestibular é menor. É claro que há exceções: alguns alunos abraçam o curso por vocação e são verdadeiros geniozinhos. Pode-se mesmo dizer que o discente entra para a Faculdade sem saber nada de português, mas sai com a cabeça mais confusa ainda: afinal, ela não ensina (a contento) a gramática tradicional, não leva o aluno a dominar a língua padrão e despeja na cabeça do aluno teorias linguísticas das quais ele vai se esquecer rapidamente e que não trarão qualquer benefício para o ensino do idioma pátrio. O descontentamento dos alunos é enorme: muitos procuram na grade curricular disciplinas que sejam voltadas para o ensino de português mas não encontram.

            Não causa estranheza, portanto, o estado lastimável em que se encontra o ensino de português no país. É voz corrente que ele vai mal e isso se deve, em grande parte, à omissão dos cursos de Letras. Parece até que certos docentes chegam a pensar: “Trata-se de um assunto muito elementar, inadequado para a formação acadêmica que tive na Europa e nos Estados Unidos”. E o pior costuma acontecer: professores despejam nas cabeças dos alunos de Letras teorias linguísticas e discursivistas que não têm qualquer proveito efetivo para o ensino de português.

            As faculdades existem para formar profissionais em suas respectivas áreas. A de Medicina forma médicos, a de Engenharia forma engenheiros, a de Direito forma advogados, e assim por diante. A Faculdade de Letras não foi feita para formar professores? Parece que não.

            Um sintoma grave dessa indiferença das faculdades de Letras (principalmente as federais) com o ensino pôde ser visto recentemente com o último Acordo Ortográfico. O assunto passou a quilômetros de distância dos doutores subequatorianos da Sorbonne e Massachusetts. Tudo bem que essa questão não seja de interesse para a Linguística, mas é muito importante para o ensino de português. Mais uma vez, os cursos de Letras ficaram à margem da discussão, tanto antes como depois da publicação do Acordo.

            Sob certos aspectos, a ABL – a tão combatida Academia Brasileira de Letras – presta mais serviços ao ensino do que as faculdades de Letras. Afinal, não é de sua iniciativa a publicação do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), tão últil para os professores do vernáculo?

            Enfim, quem é que presta mais serviços à comunidade, com relação ao emprego do português padrão? São os cursos superiores de Letras ou os chamados “professores midiáticos”, como Pasquale Cipro Neto, Dad Squarisi, Sérgio Nogueira e outros?

            Para finalizar, é preciso reconhecer que os cursos de Letras precisam continuar com as suas pesquisas de alto nível, fazer as suas experimentações, incentivar a participação de professores em cursos do exterior, introduzir novas teorias nas diversas áreas do conhecimento, etc., etc. Tudo isso deve ser feito nos cursos de pós-graduação da Fale/UFMG. Nos cursos de graduação – citando mais uma vez o Projeto Pedagógico – “a formação de professores constitui um compromisso maior da Faculdade de Letras e uma realidade de mercado para os profissionais de Letras, além de ser uma necessidade estratégica do país no eixo educacional”.

6 comentários:

  1. Olá, Luiz,

    há um artigo do Marcos Bagno sobre a catástrofe dos cursos de Letras (http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=46).

    Na USP, por exemplo, eu tive muitas e muitas aulas de Literatura e de partes mínimas do texto (morfologia, fonologia), mas nenhuma de Redação. Como um professor de português ensinará a escrever sem discutir Produção Textual? Apesar de gostar muito do que faço, concordo com você sobre a excessiva academia... que não prepara para a prática.

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  2. Professor Rochinha,

    Esse foi meu primeiro semestre de FALE, e mesmo antes de ler o seu texto aqui no blog, já havia notado e feito tais críticas a nossa faculdade. Tenho visto que o estudante de Letras não escolhe o curso por paixão, escolhe por falta de opção ou, como o senhor citou, pela facilidade do vestibular. Então, no meio acadêmico onde deveriam estar os, também citados, "geniozinhos", entram pessoas completamente despreparadas gerando durante as aulas um clima de ensino médio ou ensino básico.
    Essa realidade é triste para mim, estudante de letras, e penso que para o professor seja mais triste e desanimador ainda. Ao acompanhar suas aulas, vejo que não se pode avançar a matéria como deveria. O senhor, como bom professor que é, entende essa realidade e não tenta tirar mais dos alunos do que eles podem oferecer, mas há outros na FALE que realmente jogam essas teorias "burocráticas" como se fossem receitas de bolo, e nós alunos somos obrigados a entendê-las ou fingi-lo (na maioria dos casos).
    Devemos então dificultar o vestibular de Letras na UFMG? Devemos criar mais matérias introdutórias, de ensino médio? Ou devemos mudar toda a metodologia do ensino do português até numa federal? Difícil...

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  3. nossa, voce simplesmente falou tudo o que eu penso sobre o curso!!! estudo letras a distancia na universidade federal de sergipe e me decepcionei demais com o curso. No meu caso, entrei porque meu desejo era aprender a escrever e falar bem, mas eu estou terminando meu curso e simplesmente não vi QUASE NADA de gramatica, somente teorias e mais teorias e literaturas, ou seja, não prepara para o mercado de trabalho! frustrante...

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  4. nossa, voce simplesmente falou tudo o que eu penso sobre o curso!!! estudo letras a distancia na universidade federal de sergipe e me decepcionei demais com o curso. No meu caso, entrei porque meu desejo era aprender a escrever e falar bem, mas eu estou terminando meu curso e simplesmente não vi QUASE NADA de gramatica, somente teorias e mais teorias e literaturas, ou seja, não prepara para o mercado de trabalho! frustrante...

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  5. Terminei a faculdade de Letras Português Inglês e são complemente decepcionada, pois não aprendi inglês e muito menos Português e meu sonho era ser revisora e tradutora está sendo muito decepcionante para mim que já tenho 64 anos...

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  6. Terminei a faculdade de Letras Português Inglês e sai complemente decepcionada, pois não aprendi inglês e muito menos Português e meu sonho era ser revisora e tradutora está sendo muito decepcionante para mim que já tenho 64 anos...

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