quarta-feira, 22 de agosto de 2012

É certo falar errado?


            O interessante e chamativo título desta postagem – É certo falar errado? – será o tema de um debate do qual terei o prazer de participar, juntamente com o meu colega Prof. Pedro Perini-Santos, da PUC-UFMG. O evento – intitulado Café Controverso – será realizado no Espaço TIM UFMG do Conhecimento, no próximo sábado, dia 25/08, às 11 horas, na Praça da Liberdade. Conto com a sua presença e a sua participação no debate que haverá depois de uma rápida exposição minha e do meu colega-professor.

            Creio que será uma ótima oportunidade que teremos para discutir esse importante assunto para os professores de português e para as pessoas de um modo geral. Espero que você já vá pensando no tema e prepare algum questionamento para a discussão. Não vou adiantar a essência da minha fala, mas sabemos mais ou menos o que vai ser discutido. O português padrão que é apresentado nas gramáticas tradicionais deve ser ensinado nas escolas? Ele já não estaria ultrapassado e não deveria ser atualizado? As pessoas falam ou deveriam falar segundo o modelo que é apresentado nas gramáticas? É lícito “podar” a linguagem que o aluno traz para a escola? Isso não seria podar a sua liberdade? Não seria “um preconceito” por parte do professor querer mudar a linguagem espontânea que o aluno traz de casa? Ensinar aos alunos a chamada língua culta ou exigir que os cidadãos usem a língua “correta” não seria uma atitude elitista por parte do professor de portuguêes e das autoridades de um modo geral?

            Isso é apenas um aperitivo. Espero a sua presença no Café Controverso para podermos discutir essas e muitas outras questões sobre o tema proposto.

            Até lá!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Linguistas e professores de português (II)


            Refeito da minha viagem à Espanha, volto à carga com o intuito de continuar as minhas considerações a respeito do papel da linguística e da disciplina intitulada língua portuguesa (ou, simplesmente, português).

            Como vimos, a linguística se preocupa com o estudo científico da linguagem humana. O português, que é ensinado nas escolas, exigido nos vestibulares e concursos e empregado nas revistas, jornais, livros técnicos e científicos, etc., se preocupa com a chamada língua culta ou padrão. Os objetivos de ambas as disciplinas não devem ser confundidos, porque, na verdade, são muito diferentes. Para o cidadão comum, o que interessa é o domínio da língua culta, seja escrita ou falada. É essa que vai ser importante na vida do indivíduo, em virtude de seu prestígio e da sua obrigariedade nos mais diversos ramos  da atividade humana.

            Os professores de português deveriam se conscientizar da extrema importância do ensino da língua padrão e deixar para os linguistas as elucubrações teóricas a respeito da linguagem. Para o cidadão comum, como eu ia dizendo, uma aula do Prof. Pasquale é muito mais importante do que todos os tratados de sociolinguística.

            É por isso que eu acho que os linguistas deveriam se ater ao seu campo de atuação – o estudo científico da linguagem humana (aliás, de grande importância para a humanidade) – e deixar a questão do ensino da língua portuguesa, que tem como matéria-prima o português padrão, para os professores de português.

            Essa ingerência de alguns linguistas no ensino do vernáculo causa, às vezes, uma grande confusão. Veja-se o caso recente de um parecerista, que assim se manifestou a respeito de um livro didático de português: “Mas eu posso falar ‘os livro’? Claro que pode.” Ora, um livro didático não é um lugar para fazer linguística. Linguística se estuda nos cursos de Letras. No ensino básico, deve-se estudar, essencialmente, a língua culta.

            Alguns dirão que já no ensino fundamental é necessário mostrar essa distinção entre o uso natural da língua e o aprendizado da linguagem culta. Acho que isso pode ser feito, mas com muito cuidado. Vejam que no caso do livro didático, a revolta foi geral. Escritores, jornalistas, revistas e jornais de grande circulação, membros da Academia Brasileira de Letras revoltaram-se contra a matéria. Será que eles estão errados? É claro que não. Mas os linguistas estão errados? Também não. O que houve foi a inadequação no que diz respeito ao espaço escolhido para as considerações do parecerista. Enfim, escola (básica) não é lugar para fazer linguística.