Durante
vinte anos participei da correção de redações do vestibular da UFMG. Pude
testemunhar os desencontros e as contradições existentes entre as equipes
avaliadoras e também dentro da mesma equipe. É claro que havia muita
concordância na atribuição dos pontos, mas também um grande número de opiniões
desencontradas. Por mais que se fizessem treinamentos dos professores – e esses
treinamentos presenciais eram de fato realizados – , sempre havia opiniões discordantes. Observem a forma fizessem que
usei no parágrafo anterior: muitos professores consideram correto o emprego de fizesse.
Mas esse seria apenas um tipo de problema, relacionado com o aspecto formal do
texto. Há inúmeros outros também graves, como estruturação do pensamento,
sequenciação de ideias, logicidade de raciocínio, adequação de linguagem,
tratamento do tema, etc. Acho simplesmente impossível que haja unanimidade de
posições com relação à correção de redações, mesmo que se exija do candidato o
emprego da linguagem formal.
Além
disso, é preciso considerar que o ato de escrever – mesmo em se tratando de
escrita formal – tem a ver com o dom, com as habilidades pessoais. Há pessoas
que adoram escrever e outros “fecham a cara” para esse tipo de atividade.
Conheço um dentista, por exemplo, excelente profissional, que se nega a
escrever duas linhas seguidas, passando essa tarefa para a secretária. A
avaliação do Enem não pode se basear em habilidades pessoais. Alguns alunos não
podem levar vantagem nas provas de redação por possuírem esse pendor natural.
Além disso, pontuações como 870, 560 ou 320 são altamente suspeitas. Como se
pode atribuir esses pontos? Qual é a fórmula mágica usada na correção? Se um
candidato recebe 320 pontos em vez de 560, tal pontuação pode mudar ou
comprometer uma vida inteira.
Por outro
lado, um aluno que não saiba escrever ou interpretar textos não pode fazer um
curso superior. Como resolver esse problema?
A meu
ver, as redações deveriam ser enquadradas em quatro grupos: A – redações muito
boas, sem problemas de qualquer espécie; B – redações acima da média; C –
redações abaixo da média; D – redações com erros graves de comunicação e de
linguagem (o aluno não tem condições de fazer um curso superior). Tomando como
base o valor total da redação, as avaliações equivaleriam a 1000, 666, 333 e
zero, respectivamente. É claro isso é apenas uma sugestão e adaptações poderiam
ser feitas.
Essa
proposta não é infalível, mas parece ser bem mais justa, humana e exequível do que
a do modelo vigente.