terça-feira, 21 de maio de 2013

Afinal, como deve ser o ensino de português?


            O caro leitor, que tanto pode ser um professor de português como uma pessoa interessada no ensino eficiente do idioma pátrio, poderá me questionar a respeito dos problemas que apresentei nas páginas deste blog: afinal, como deve ser o ensino de português? Ele se resume no aprendizado da chamada língua padrão? O contato constante com o texto – aliás, com todo tipo de texto – é importante para o aluno? Como levar o discente a escrever um texto com lógica, com sequência, com argumentação, enfim, como levar o aluno a ter um bom desempenho linguístico já na escola? Qual é a importância da interpretação de textos para o cidadão comum? E – at last but not at least – como conseguir que o aluno escreva corretamente, sem erros de ortografia, emprego de maiúsculas, concordância, regência, colocação, emprego de pronomes, conjugação verbal, uso de plural, etc.? Como conseguir tudo isso sem necessidade – como venho defendendo diuturnamente – de decorar toda aquela parafernália gramatical que nos foi legada pela velha escola e que insiste ainda em aparecer nos livros didáticos e frequentar os bancos escolares?

            No meu livro Gramática: nunca mais I (Ed. Martins Fontes) apresento dois modelos de lições de português. Cada modelo apresenta as seguintes partes e subpartes:

                        I – Prática da leitura – a) Vocabulário

                                                            b) Prática linguìstica

                                                            c) Compreensão do texto

                                                            d) Expressão oral

                        II – Exercícios em língua padrão

                        III – Produção da escrita

            Nas próximas postagens vou apresentar, com detalhes, como deve ser esta proposta para o ensino de português. Como você verá, a proposta se preocupa com dois aspectos principais:
            a) O aspecto conteudístico da disciplina, relacionado com a compreensão e a interpretação de textos,  a necessidade de levar o aluno ao raciocínio e à reflexão, a preocupação constante com a dedução, a indução, a comparação, etc., a inserção do aluno no mundo em que vivemos, a exercitação do discente na capacidade de pensar o mundo atual, etc.
            b) O domínio da língua padrão, desde os aspectos mais simples e elementares, como ortografia e pontuação, até as questões mais graves como concordância, regência, emprego do pronome relativo, passando, é lógico, pelo problema da lógica, da sequenciação, da clareza, etc.   

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Redações do Enem: a volta do "óbvio ululante"


        Suponhamos uma redação do Enem, cujo início fosse assim:

 

“A copa do mundo vai trazer muitos beneficio para o Brasil. Um dos mais importante vão ser as novas estrada que estão construindo no pais. É o caso de Belo horizonte por exemplo que esta sendo construido um monte de avenidas nova é o caso da aven. Antonio carlos e Cristiano machado duas principais avenidas para servir a nossa cidade. Outro beneficio são a construção de belos estádio como é o caso do Minerão que está uma belesa sem nenhum poblema e que dentro dele cabe mais de secenta mil pessoa acentada que assiste o jogo no maior conforto isso sem falar nos hotel que esta sendo construido à todo instante na cidade dentro e fora dela...”

 

        Não vamos corrigir esse texto, mas está claro que aí existem erros de: ortografia  (inclusive de acentuação gráfica e emprego de maiúscula), pontuação, paragrafação, concordância verbal, concordância nominal, emprego de pronome relativo, regência verbal, uso do acento indicador da crase, flexão de número, sequenciação de ideias, ilogicidade, repetição inadequada de palavras, etc. etc.

        O mais incrível de tudo isso é que só agora o Inep parece ter acordado para o problema. Até aqui “valia” escrever “trousse, enxergar, essas providências, no entanto, não deve ser expulsão” e “é fundamental que hajam debates”. Mas a sociedade brasileira, por meio principalmente da imprensa esclarecida, reagiu e obrigou o Ministro da Educação a ser explícito com relação ao assunto: sim, os erros de português serão corrigidos de acordo com a língua padrão! Voltou-se, assim, ao mais elementar dos ensinamentos da escola, ao “óbvio ululante” de Nelson Rodrigues: os alunos precisam dominar a língua padrão escrita. Afinal, é esse tipo de linguagem que vai ser usado pelos advogados, pelos jornalistas, pelos psicólogos, pelos técnicos em enfermagem e pelo cidadão de maneira geral.

        Algumas pessoas, no entanto, mesmo as mais estudadas, confundem as coisas e logo pensam: – Mas eu preciso saber gramática (ditongo, tritongo, pronome demonstrativo, advérbio, oração cooordenada, subordinada, reduzida, etc.) para escrever corretamente? De jeito nenhum. O importante é o desempenho, a prática, o uso. É preciso dominar a concordância verbal do português? Sim. Para isso não é necessário decorar as trezentas e vinte e sete regras de concordância, mas praticar bastante, como procuro fazer no meu livro Gramática nunca mais II – exercícios (Edit. Comunicação de Fato). Além disso, é preciso ficar claro que o Enem não exige dos candidatos em sua prova de Linguagens, códigos e suas tecnologias qualquer conhecimento teórico de gramática.

            Em síntese, um alerta para a prova do Enem: escrever correta e adequadamente, sim, mas sem necessidade de decorar a gramática.   

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Educação nas esquinas de Belo Horizonte


            Educar não é simplesmente entrar em uma sala de aula e recitar a lição do dia, não é apenas ajudar o filho a fazer o para casa e não é passar para alguém algum conhecimento ou informação. Mais do isso, educar é criar hábitos, é levar uma pessoa a pensar de  maneira diferente, é abrir caminhos desconhecidos.

            Você que conhece Belo Horizonte, que mora nesta cidade ou, melhor ainda, que nasceu aqui, certamente já passou pela Avenida Raja Gabaglia, já cruzou a Praça Raul Soares e certamente conhece algumas dessas ruas ou avenidas: Bernardo Guimarães, Bernardo Monteiro, Augusto de Lima, Levindo Lopes, Antônio de Albuquerque, Bias Fortes, Levindo Lopes, Professor Moraes, Santa Rita Durão, Francisco Sales, Francisco Sá, etc. Você sabe quem foram esses ilustres personagens, que deram nome a logradouros de uma região nobre de Belo Horizonte? Isso sem falar nos milhares de ruas, avenidas, praças, becos, vielas, viadutos, túneis, trincheiras, passarelas – perdidos e esquecidos nos confins desta cidade. Colho ao acaso alguns nomes, mas todos sabemos que a lista é muito grande: Aníbal Teotônio, Domingos Grosso, Faria de Brito, Guanhães, Gustavo da Silveira, Hélcio Corrêa, Itapemirim, Modestino França, Pedro Lessa, Raul Mourão Guimarães, Lagoa Doutada, Romualdo Lopes Cançado, Serra Azul, Teixeira de Magalhães, Urandi, etc., etc. Afinal, quem são essas pessoas? Que lugares são esses?

            Na cidade do Rio de Janeiro, a Prefeitura mandou colocar, abaixo do nome do logradouro público, uma breve informação: escritor mineiro (1927-1986); compositor carioca (1913-1971); Prefeito do Rio de Janeiro (1937-2005); cidade fluminense; capital do Paraná, rio da Amazônia, etc. Por que não fazemos o mesmo em Belo Horizonte? Uma providência tão simples poderia trazer uma informação preciosa para as pessoas e – o que é mais importante – despertar nos indivíduos o interesse por nossas coisas, por nossos antepassados e por nossas instituições. Quem sabe uma atitude como essa puderia nos aproximar mais da nossa História, do nosso rincão e dos nossos costumes?

            Informações desse tipo poderiam aguçar a curiosidade do belorizontino: embora tenha se apaixonado por Marília de Dirceu e casado com ela, em BH Tomás Gonzaga não cruza com a sua amada, embora esteja próximo dela. Já Alvarenga Peixoto consegue, sim, se encontrar com a sua amada, Bárbara Heliodora, no bairro de Lourdes. É bem verdade que Bárbara Heliodora pende um pouco para Tomás Gonzaga e se encosta nele. Mais interessante é o caso de Santa Rita Durão: embora localizado entre a Rua Cláudio Manoel (um inconfidente) e a Rua dos Inconfidentes, Santa Rita Durão não é inconfidente e muito menos uma santa da Igreja Católica; é um poeta mineiro, autor do poema épico Uirapuru, que viveu de 1722 a 1784.