Para o
cidadão comum, uma gramática tradicional é um péssimo livro de consulta
na hora de utilizar o português padrão escrito. Há vários motivos que
justificam tal afirmativa:
1º) Para uma pessoa consultar
uma gramática, é necessário que ela saiba gramática. Ora, hoje em dia, neste
país, quem é que sabe gramática satisfatoriamente, a ponto de entender o
conteúdo de um compêndio gramatical? Apenas os professores de português, e olhe
lá! Tenho minhas sinceras dúvidas se os professores de português de hoje sabem
gramática. Gostaria de fazer uma pesquisa sobre esse assunto, mas como estou
comprometido com outros trabalhos, deixo aqui essa sugestão para uma boa
dissertação de mestrado. Costumo sempre dizer que, para compreender o Código
Penal, o indivíduo precisa saber Direito Penal, para compreender o Código
Civil, o indivíduo precisa saber Direito Civil, e assim por diante. Ora, para
consultar a gramática, a pessoa precisa saber gramática ... e aí surge o drama.
2º) A gramática usa uma
terminologia esdrúxula, arcaica e rebarbativa, o que a torna de difícil acesso
ao cidadão comum (pretérito imperfeito do subjuntivo, oração subordinada
substantiva completiva nominal reduzida de gerúndio, verbo anômalo, predicado
verbo-nominal, etc.). Alguns defensores da gramática dirão: – Mas a
nomenclatura da química e a da física também são muito complicadas! Sim, é
verdade, mas elas são lógicas e transparentes, e são úteis – sem os excessos, é
lógico –, mesmo para o cidadão comum. Tal não acontece com a termilologia gramatical.
3º) Ao escrever um texto, uma
pessoa tem muitas dificuldades para encontrar certas informações na gramática.
Experimente o caro leitor encontrar o assunto emprego da crase em certas
gramáticas. Umas o colocam na regência verbal, outras no emprego da
preposição, outras na acentuação e outras ainda em um capítulo
separado. Se o leitor quiser saber se a frase isto é para mim fazer está
correta, ele terá sérias dificuldades para encontrar a solução nos compêndios
gramaticais.
Duas perguntas surgem, em
decorrência do que acabei de falar.
As gramáticas devem ser
simplesmente banidas da face da terra?
Afinal, o que é um livro de
consulta de português?
Vou deixar esses assuntos para
a próxima postagem.