terça-feira, 7 de agosto de 2012

Linguistas e professores de português (II)


            Refeito da minha viagem à Espanha, volto à carga com o intuito de continuar as minhas considerações a respeito do papel da linguística e da disciplina intitulada língua portuguesa (ou, simplesmente, português).

            Como vimos, a linguística se preocupa com o estudo científico da linguagem humana. O português, que é ensinado nas escolas, exigido nos vestibulares e concursos e empregado nas revistas, jornais, livros técnicos e científicos, etc., se preocupa com a chamada língua culta ou padrão. Os objetivos de ambas as disciplinas não devem ser confundidos, porque, na verdade, são muito diferentes. Para o cidadão comum, o que interessa é o domínio da língua culta, seja escrita ou falada. É essa que vai ser importante na vida do indivíduo, em virtude de seu prestígio e da sua obrigariedade nos mais diversos ramos  da atividade humana.

            Os professores de português deveriam se conscientizar da extrema importância do ensino da língua padrão e deixar para os linguistas as elucubrações teóricas a respeito da linguagem. Para o cidadão comum, como eu ia dizendo, uma aula do Prof. Pasquale é muito mais importante do que todos os tratados de sociolinguística.

            É por isso que eu acho que os linguistas deveriam se ater ao seu campo de atuação – o estudo científico da linguagem humana (aliás, de grande importância para a humanidade) – e deixar a questão do ensino da língua portuguesa, que tem como matéria-prima o português padrão, para os professores de português.

            Essa ingerência de alguns linguistas no ensino do vernáculo causa, às vezes, uma grande confusão. Veja-se o caso recente de um parecerista, que assim se manifestou a respeito de um livro didático de português: “Mas eu posso falar ‘os livro’? Claro que pode.” Ora, um livro didático não é um lugar para fazer linguística. Linguística se estuda nos cursos de Letras. No ensino básico, deve-se estudar, essencialmente, a língua culta.

            Alguns dirão que já no ensino fundamental é necessário mostrar essa distinção entre o uso natural da língua e o aprendizado da linguagem culta. Acho que isso pode ser feito, mas com muito cuidado. Vejam que no caso do livro didático, a revolta foi geral. Escritores, jornalistas, revistas e jornais de grande circulação, membros da Academia Brasileira de Letras revoltaram-se contra a matéria. Será que eles estão errados? É claro que não. Mas os linguistas estão errados? Também não. O que houve foi a inadequação no que diz respeito ao espaço escolhido para as considerações do parecerista. Enfim, escola (básica) não é lugar para fazer linguística.  

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