Refeito
da minha viagem à Espanha, volto à carga com o intuito de continuar as minhas
considerações a respeito do papel da linguística e da disciplina
intitulada língua portuguesa (ou, simplesmente, português).
Como
vimos, a linguística se preocupa com o estudo científico da linguagem
humana. O português, que é ensinado nas escolas, exigido nos
vestibulares e concursos e empregado nas revistas, jornais, livros técnicos e
científicos, etc., se preocupa com a chamada língua culta ou padrão. Os
objetivos de ambas as disciplinas não devem ser confundidos, porque, na
verdade, são muito diferentes. Para o cidadão comum, o que interessa é o
domínio da língua culta, seja escrita ou falada. É essa que vai ser importante
na vida do indivíduo, em virtude de seu prestígio e da sua obrigariedade nos
mais diversos ramos da atividade
humana.
Os
professores de português deveriam se conscientizar da extrema importância do
ensino da língua padrão e deixar para os linguistas as elucubrações teóricas a
respeito da linguagem. Para o cidadão comum, como eu ia dizendo, uma aula do
Prof. Pasquale é muito mais importante do que todos os tratados de
sociolinguística.
É por
isso que eu acho que os linguistas deveriam se ater ao seu campo de atuação – o
estudo científico da linguagem humana (aliás, de grande importância para a
humanidade) – e deixar a questão do ensino da língua portuguesa, que tem como
matéria-prima o português padrão, para os professores de português.
Essa
ingerência de alguns linguistas no ensino do vernáculo causa, às vezes, uma
grande confusão. Veja-se o caso recente de um parecerista, que assim se
manifestou a respeito de um livro didático de português: “Mas eu posso falar
‘os livro’? Claro que pode.” Ora, um livro didático não é um lugar para fazer
linguística. Linguística se estuda nos cursos de Letras. No ensino básico,
deve-se estudar, essencialmente, a língua culta.
Alguns
dirão que já no ensino fundamental é necessário mostrar essa distinção entre o
uso natural da língua e o aprendizado da linguagem culta. Acho que isso pode
ser feito, mas com muito cuidado. Vejam que no caso do livro didático, a
revolta foi geral. Escritores, jornalistas, revistas e jornais de grande
circulação, membros da Academia Brasileira de Letras revoltaram-se contra a
matéria. Será que eles estão errados? É claro que não. Mas os linguistas estão
errados? Também não. O que houve foi a inadequação no que diz respeito ao
espaço escolhido para as considerações do parecerista. Enfim, escola (básica)
não é lugar para fazer linguística.
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