terça-feira, 10 de setembro de 2013

Redações do Enem 2013 - Comentários sobre o Guia do Participante


            Pode-se dizer que o Guia do participante do Enem apresenta considerações muito úteis e importantes a respeito da redação. Todo candidato deveria ler com extremo cuidado as recomendações do Guia, pois, além de serem muito fáceis e acessíveis, constituem uma verdadeira aula, ou mesmo um curso, a respeito de como redigir um bom texto.
            O ponto alto do documento refere-se à estruturação da redação, ou seja, à maneira como um texto argumentativo-dissertativo deve ser montado. Partindo do princípio de que o candidato deve defender uma tese ou uma opinião a respeito do tema proposto, o guia explica com muita clareza o que se entende por esses conceitos. Em seguida, reforça a necessidade de o candidato apresentar argumentos consistentes estruturados de forma coerente e coesa, com a finalidade de formar uma unidade textual. Por fim, o documento leva o aluno a elaborar uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do texto.      
Igualmente importantes são as diversas competências arroladas no documento para que o aluno faça uma boa redação. Há também inúmeras informações sobre critérios de avaliação, discrepância de pontuação entre os avaliadores, redações que merecem nota zero, fuga ao tema proposto e número de linhas. São muito claras as explicações sobre coerência e coesão textuais, estruturação de parágrafos e períodos, referenciação como elemento de coesão, etc. Os conselhos e sugestões não param por aí, daí a real necessidade de os candidatos lerem esse Guia com muita atenção.
            Por outro lado, o documento peca com relação a um aspecto muito polêmico do ensino de Português. Não fica claro no Guia se o candidato precisa ou não, saber gramática para fazer uma boa redação. Numa primeira interpretação parece que não, pois não há nenhuma recomendação com relação a isso. No entanto, o documento não consegue se libertar do ranço gramatical que ainda ronda as nossas salas de aula. Vejamos algumas passagens do Guia em que são citados alguns pontos da gramática tradicional:
 

 
“...há outras exigências para o desenvolvimento do texto dissertativo-argumentativo:

   Obediência às regras de:

- concordância nominal e verbal;

- regência nominal e verbal;

- pontuação;

- flexão de nomes e verbos;

- colocação de pronomes oblíquos (átonos e tônicos)...” (p. 12);

 
“Preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais são responsáveis pela coesão do texto, porque estabelecem uma inter-relação entre orações, frases e parágrafos.

 “Esse processo pode ser expresso por pronomes, advérbios, artigos ou vocábulos de base lexical...

 “... substituição de termos ou expressões por pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos, advérbios que indicam localização, artigos...” (p. 20)

 
“... substituição de substantivos, verbos, períodos ou fragmentos do texto por conectivos ou expressões que resumam e retomem o que já foi dito...”

“...frase com apenas oração subordinada, sem oração principal...”

“...emprego equivocado do conector (preposição, conjunção, pronome relativo, alguns advérbios e locuções adverbiais)...”

“...emprego do pronome relativo sem a preposição...”  (p. 21)

“Esse domínio pode ser comprovado pelo respeito... às regras de concordância nominal e verbal; às regras de regência nominal e verbal... (p. 27)

 
           
           A pergunta que todo candidato deve estar fazendo é a seguinte: Preciso estudar gramática para fazer uma boa redação? O Guia é omisso com relação a esse assunto. O aluno precisa, sim, dominar a norma escrita, mas, para isso, não precisa dominar a nomenclatura gramatical. É essa a posição do Guia do participante? Se é essa a posição do Guia, como tudo indica, para que aterrorizar o candidato com assombrações como preposição, conjunção, advérbio, locução adverbial, artigo, pronome relativo, pronome pessoal, pronome possessivo, oração principal, oração subordinada, concordância nominal, regência nominal, etc.?

Um comentário: