sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Gramáticas e livros de consulta


            Volto às perguntas que fiz na postagem anterior:

 

As gramáticas devem ser simplesmente banidas da face da terra?

Afinal, o que é um livro de consulta de português?

 

Sim, as gramáticas devem ser banidas da face da terra.

Pelos motivos expostos no texto anterior, não faz sentido que as gramáticas tradicionais continuem a ser publicadas. Muitos e muitos argumentos poderiam ser acrescentados: a sua inutilidade para o estudo de português nas escolas, o caráter imutável de sua teoria (que as condena a uma fossilização inaceitável), as contradições internas de uma teoria extremamente vulnerável a críticas, o caráter enciclopédico de seus conteúdos, que pretende reunir em um só volume todos os problemas da língua, etc., etc.

As gramáticas científicas, no entanto, devem ser publicadas. Elas se destinam a especialistas da linguagem, como linguistas, professores e alunos de cursos de letras. Elas não devem ser usadas nas escolas, pois o seu objetivo é o estudo científico da linguagem humana, não o português padrão escrito. Dois bons exemplos de gramáticas científicas são as do Prof. Mário Perini e do Prof. Ataliba de Castilho. Elas são baseadas no português culto falado. Defendo a ideia de que deve haver também gramáticas científicas baseadas no português escrito padrão. Não conheço gramáticas desse tipo, apenas trabalhos acadêmicos, como a tese da Prof.ª Rosângela Borges Lima, intitulada Estudo da norma escrita brasileira presente em textos jornalísticos e técnico-científicos (Faculdade de Letras da UFMG – 2003). Há, porém, inúmeros trabalhos acadêmicos que têm como corpus o português padrão escrito usado na imprensa escrita contemporânea e nas publicações técnico-científicas. São obras desse tipo que devem abastecer os livros de consulta.

A meu ver, os livros de consulta de português são muito mais úteis ao cidadão comum do que as gramáticas tradicionais. São obras de fácil acesso, em linguagem accessível mesmo a pessoas com baixa escolaridade, são obras que se atêm àqueles itens que trazem realmente dúvidas aos consulentes, enfim, são trabalhos escritos com o intuito de facilitar a vida do estudante e das pessoas que buscam uma solução para os problemas do português. Há inúmeros livros nesse sentido: cito apenas os trabalhos do Prof. Sérgio Nogueira Duarte da Silva, do Prof. Pasquale Cipro Neto e uma obra conjunta dos professores José de Nicola e Ernani Terra.

É pena que alguns desse trabalhos apresentem as explicações sobre o uso do português com base na gramática. A meu ver, a explicação fica prejudicada, pois são pouquíssimas as pessoas que dominam a teoria gramatical. Mas, de qualquer forma, os livros de consulta são bem mais úteis do que as gramáticas tradicionais.

Para sanar essa dívida com o leitor, comunico que acabei de escrever um livro de consulta, que receberá o título de Português sem gramática. Deve ser lançado em breve.

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