sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Os cursos de Letras formam professores? (II)


Eu deveria na postagem de hoje falar sobre o ensino da expressão oral, mas vou adiar esse assunto mais um pouco, para completar a discussão do último texto. Continuo afirmando que os cursos de Letras, principalmente aqueles que fazem parte de universidades públicas, não preparam adequadamente o aluno para o exercício da profissão. É claro que há exceções, mas são poucas.

Para fundamentar a minha posição, tomo como exemplo uma prova que apliquei a uma turma da FALE/UFMG em dezembro último, na qual procuro demonstrar como deve ser tratada a questão da gramática em sala de aula. Em outras palavras, aplico em sala as lições do meu livro Gramática nunca mais II – exercícios (Ed. Comunicação de Fato). Mas o que eu gostaria de demonstrar agora não é propriamente o método aplicado – algo que já discutimos bastante neste blog – mas algumas frases escritas pelos alunos.

 

-         Ninguém sabe dizer porquê, mas o ataque dos saguís à população local constituiu uma paranóia dos grupos récem-constituídos.

-         Os acordãos da corte portuguêsa constituiu revéses para os cônsuls (cônsules).

Os acordões das cortes portuguesas constituíram reveses para os consules.

-         Cedes a tua vez aos mais velhos!

Ceda a tua vez aos mais velhos!

-         Ouves os conselhos de teus irmãos!

Ouça os conselhos de teus irmãos!

-         Captes os sinais de vossos antepassados!

Capte os sinais de vossos antepassados!

-         Depois de duas horas de treino, apareceu, no meio da quadra... dois atletas do time adversário.

-         Estas são as palavras do presidente a qual podemos contar.

-         Devem haver muitas desculpas incríveis entre os universitários.

-         Já não se crêem mais nas tradições da cidade.

Já não se criava mais nas tradições da cidade.

            -     Haverão vários motivos para nos livrarmos dos encargos.

-         À trezentos metros da Praça Sete, formou-se o maior tumulto.

-         A verdade não veio à tona; obrigaram elas a fazerem o abôrto.

-         Venho, em nome do prefeito, convidar-lhes para participarem...

-         Arrependeríamos facilmente, se houvesse-nos justificativa.

Arrependeríamos-nos facilmente, se houvesse justificativa.

Arrependeria-mo-nos facilmente, se houvesse justificativa.

Nos arrependeríamos facilmente, se houvessem justificativas.

 

            É claro que os alunos têm uma parcela de culpa, porque foram feitos inúmeros exercícios desse tipo em sala de aula. Além disso, há alunos que estudaram e obtiveram boas notas. Mas a maior parcela da culpa cabe à Instituição, que relega questões desse tipo – como vimos na postagem anterior – a um nível secundário, considerando-as indignas de estudo em um curso superior. O resultado está aí. E o ensino de português vai sendo empurrado com a barriga... 

2 comentários:

  1. Professor, li o seu livro Gramática nunca mais(01) e gostei muito. O método GNM com certeza será algo que utilizarei futuramente nas salas de aula. Gostaria de fazer apenas dois comentários: 1°) Não concordei com o que você disse sobre deixar de publicar as Gramáticas tal como ela é, já que ela será um instrumento voltado exclusivamente para profissionais da Letras, não vejo razão para tal mudança. 2°) Quanto ao não ficar recorrendo às terminologias gramaticais em ensino fundamental e médio, acho que no fundamental tudo bem ,más no ensino médio o aluno já deveria ter algum contato com essa terminologia, pois se futuramente ele optar por seguir uma carreira “nas Letras”, esse aluno terá muita dificuldade se não ter esse primeiro contato no ensino médio. E acho ainda que , já que a faculdade de Letras seria a responsável por aprofundar o aluno nas terminologias gramaticais,elas deveriam então fazê-lo com mais intensidade, pois o que se vê hoje é que o estudante de Letras chega na faculdade de Letra (qualquer que seja) tem que ficar implorando à direção pra ser ter aula de Gramática, aí é algo realmente complicado e,se a coisa não mudar, não sei onde vamos parar, com as origens da nossa língua, no mais , abraços...

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  2. Eu fiz Letras, mas a matéria que menos se via era gramática. O que mais se fazia eram peças, líamos os livros literários antigos, ou pelo menos o resumo e apresentávamos em forma de teatro. Um dia levei um susto ao ver um caixão bem no meio da sala. Mas fazia parte do cenário. Tudo se resumia a muitos trabalhos. Parecia mais que estávamos nos formando em atores rs... Mas era divertido!

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