A figura da marida de aluguel da novela das nove na Rede Globo suscita uma discussão interessante para os amantes do português. Marida é uma forma que não existe na língua – nem nos dicionários nem fora deles. O feminino de marido é mulher ou esposa. Mas é claro que o autor da novela quis estabelecer uma ponte entre marida de aluguel e marido de aluguel, sendo esta última expressão bastante conhecida da linguagem informal: designa o trabalhador que faz de tudo no lugar do consorte masculino que não existe ou que não é muito afeito a trabalhos um pouco mais pesados.
Passemos para a questão que nos interessa.
Muitas palavras se apresentam aos pares, para designar o macho e a fêmea: garoto/garota, mestre/mestra, galo/galinha, maestro/maestrina, bode/cabra. Às vezes a distinção é feita com o auxílio de outra palavra, como jacaré macho/jacaré fêmea ou o selvagem/a selvagem.
Há pouco passamos por um problema interessante: qual é forma correta: presidente Dilma Roussef ou presidenta Dilma Roussef? Em outras palavras: existe o par presidente/presidenta ou se deve conservar sempre a forma presidente?
O gênero das palavras é a única categoria gramatical que se modifica com o sabor dos acontecimentos. Já o plural das palavras será sempre o mesmo, bem como a conjugação dos verbos.
Tempos atrás, não havia a palavra goleira, simplesmente porque o futebol não era praticado por mulheres. Hoje, além de ser comuníssima na linguagem falada, essa forma está registrada no dicionário Houaiss. A mesma coisa se pode dizer com relação a palavras como ministra, desembargadora, capitã, soldada, marinheira, etc. São os costumes que autorizam a existência dessas palavras.
Mas a gramática não deveria ser uma organização ou um sistema sólido, consistente, imutável? Ela permite essas “liberdades” de que estamos falando? Afinal, é lícito a Rede Globo usar a espressão “marida de aluguel”?
(Continua)
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