quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Alguns comentários preciosos de um leitor

            Recebi alguns comentários, bastante interessantes e oportunos, a respeito do meu blog, ou, mais especificamente, da “bandeira” que carrego, intitulada “Gramática nunca mais”. Os comentários são do meu ex-aluno e brilhante jornalista do Estado de Minas, João Paulo Gomes. Vou extrair alguns itens de sua argumentação, dizendo, desde logo,  que concordo com o grosso de suas colocações. Algumas questões pontuais que abordo são à guisa de complementação, mas não de discordância.

a) O autor da mensagem afirma que esse pesadelo chamado GRAMÁTICA ainda é muito difícil de combater. E acrescenta: “o maior problema é o próprio sistema de ensino”.

             De fato os tentáculos da máquina governamental exercem um poder enorme sobre o ensino de português. Vou citar apenas quatro exemplos para comprovar a ingerência indevida do poder público no ensino da língua portuguesa: 1) A criação da malfadada Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), em 1958, que engessou o ensino nas escolas e fora delas, obrigando as gramáticas e os estudos linguísticos a se submeter à nomenclatura oficial; 2) O surgimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1998, uma cartilha que mais confundiu do que esclareceu, principalmente no que se refere ao ensino da gramática; 3) O Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) que, com a sua visão de cima para baixo, certamente não vai “aprovar” livros que não contenham gramática; 4) O papel equivocado de algumas faculdades de Letras, principalmente as federais, que não se importam com o ensino, mas, sim, com os últimos hits de Sorbonne e de Massachusetts.

            b) No que se refere à cobrança da gramática, diz o autor que o “vestibular é o grande problema”.

           É preciso lembrar, no entanto, que a UFMG e as grandes universidades brasileiras (principalmente as federais) não exigem mais conhecimentos gramaticais explícitos em seus exames de seleção. Exigem, sim, o desempenho linguístico da norma padrão, no que estão absolutamente corretas. Além disso, um grande aliado da nossa bandeira é o Enem, que também não exige definições, classificações e o emprego da nomenclatura gramatical.

            c) Segundo o jornalista, a gramática é um pouco prazerosa para ele.

           Concordo que ela seja prazerosa para algumas pessoas, mas, a meu ver, para a imensa maioria dos cidadãos brasileiros, ela não o é. Há pesquisas antigas sobre isso. Acho que as pessoas que gostam de gramática deveriam fazer o curso de Letras, este sim, o reduto onde ela deveria ser estudada a fundo. Mas logo nos primeiros períodos de Letras, os alunos percebem que a gramática tradicional está eivada de erros, contradições e impropriedades. É preciso partir (repito, apenas nos cursos de Letras) para o estudo de outros tipos de gramática, as gramáticas científicas, que são de grande interesse para o estudo da Linguística.

            d) Um último comentário. Diz o meu ex-aluno: “Penso que alguns assuntos abordados na gramática são úteis no aprendizado da Língua Portuguesa, contudo, a maneira como se ensina é que deve ser mudada”.

            Na minha opinião, o aluno tem que saber escrever corretamente, isto é, tem que saber ortografia, acentuação, pontuação, concordância verbal, colocação de pronomes, conjugação verbal, regência verbal, etc. Só que é perfeitamente possível saber tudo isso sem saber gramática (isto é, definição, classificação e nomenclatura). Agora pergunto aos leitores do meu blog: vocês duvidam? Então leiam o livro Gramática nunca mais 2, que publiquei recentemente (Editora Comunicação de Fato).

            Agradeço ao João Paulo a oportunidade que me deu de suscitar esses comentários.

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