Há uma
questão, relacionada com a expressão oral, que costumo discutir muito
com meus alunos do Curso de Letras. Trata-se do seguinte.
O aluno –
digamos, da 6ª ou 7ª série – levanta o braço e pergunta: – Professor, o senhor
vai passear com nós amanhã no Jardim Zoológico? A sala fica em silêncio
e todos se voltam para o mestre, esperando uma resposta. Independentemente da
resposta que será dada, a questão que coloco aqui é a seguinte: deve o
professor “corrigir o erro de português” proferido pelo aluno? Deve o professor
corrigir para “...o senhor vai passear conosco amanhã...”?
Quando
coloco em discussão uma questão como essa, as opiniões divergem bastante.
Há aqueles que defendem que a
correção deve ser imediata, sem rodeios, pois, afinal de contas, é essa a
missão do professor. Se o professor de português não fizer isso de maneira
clara, adequada, contínua e constante, quem o fará? Os professores de outras
disciplinas, que muitas vezes o fazem, mas sabendo que essa é uma tarefa que
deveria ser de responsabilidade do professor de português? Além disso, é tarefa
da escola ensinar não só o português padrão escrito, mas também o português
culto falado, que deverá ser usado em diversas circunstâncias, como vimos na
postagem anterior. Não fazer essa correção é dificultar a vida do aluno e do
futuro cidadão, é impedi-lo de entrar no mercado de trabalho, é privá-lo de uma
ferramenta importante, que é o domínio do português culto. É, enfim, cometer um
crime pedagógico, com repercussões funestas na vida de uma pessoa.
Por outro lado, há aqueles que
consideram a “correção” uma violência cometida contra o aluno, pois isso
poderia ferir as susceptibilidades do jovem, podendo mesmo marcá-lo para o
resto da vida. Trata-se de um psicologismo barato, que desconhece que o papel
primordial da escola é inserir o indivíduo na sociedade. Há ainda aqueles
linguistas mal-informados, que afirmam que corrigir o aluno é deformar a
personalidade linguística do aluno, é tentar impor ao jovem uma linguagem
artificial, elitizada, que irá cercear a liberdade do educando. É preciso
deixar claro que, ao aprender a língua padrão na escola, o jovem vai continuar
usando com seu amigos, colegas e parentes o tipo de linguagem que melhor lhe
convier. É claro que haverá um alerta do professor para o aluno: – Quando você
for escrever um requerimento, uma procuração ou um relatório, ou quando você
pedir a palavra em uma reunião da sua empresa, use o português padrão ou culto.
O leitor já deve ter notado que
defendo a primeira posição e eu poderia enumerar várias razões para isso. A
correção deve ser feita na hora, mas sempre... sempre, com muita educação e
jeitinho por parte do professor. Se o aluno afirma que 5 X 7 é 30 ou que a
capital da Alemanha é Madri ou que a monarquia brasileira foi extinta no século
XX, não devem os professores de matemática, geografia e história corrigir os
alunos no ato? Por que o professor de português não pode corrigir o aluno?
Garanto que o aluno ficará aternamente grato, se a correção for feita, como
disse, com educação, carinho e amor.
Ao aluno mais renitente, que
não aceita que a correção seja feita pelo professor de português, costumo
lançar mão de outro argumento mais poderoso. Pergunto ao futuro professor de português: – Se o seu filho lhe
perguntar: Pai, você vai com nós no zoológico? – você corrigiria?
Nenhum comentário:
Postar um comentário