quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ainda a expressão oral


            Há uma questão, relacionada com a expressão oral, que costumo discutir muito com meus alunos do Curso de Letras. Trata-se do seguinte.

            O aluno – digamos, da 6ª ou 7ª série – levanta o braço e pergunta: – Professor, o senhor vai passear com nós amanhã no Jardim Zoológico? A sala fica em silêncio e todos se voltam para o mestre, esperando uma resposta. Independentemente da resposta que será dada, a questão que coloco aqui é a seguinte: deve o professor “corrigir o erro de português” proferido pelo aluno? Deve o professor corrigir para “...o senhor vai passear conosco amanhã...”?

            Quando coloco em discussão uma questão como essa, as opiniões divergem bastante.

Há aqueles que defendem que a correção deve ser imediata, sem rodeios, pois, afinal de contas, é essa a missão do professor. Se o professor de português não fizer isso de maneira clara, adequada, contínua e constante, quem o fará? Os professores de outras disciplinas, que muitas vezes o fazem, mas sabendo que essa é uma tarefa que deveria ser de responsabilidade do professor de português? Além disso, é tarefa da escola ensinar não só o português padrão escrito, mas também o português culto falado, que deverá ser usado em diversas circunstâncias, como vimos na postagem anterior. Não fazer essa correção é dificultar a vida do aluno e do futuro cidadão, é impedi-lo de entrar no mercado de trabalho, é privá-lo de uma ferramenta importante, que é o domínio do português culto. É, enfim, cometer um crime pedagógico, com repercussões funestas na vida de uma pessoa. 

Por outro lado, há aqueles que consideram a “correção” uma violência cometida contra o aluno, pois isso poderia ferir as susceptibilidades do jovem, podendo mesmo marcá-lo para o resto da vida. Trata-se de um psicologismo barato, que desconhece que o papel primordial da escola é inserir o indivíduo na sociedade. Há ainda aqueles linguistas mal-informados, que afirmam que corrigir o aluno é deformar a personalidade linguística do aluno, é tentar impor ao jovem uma linguagem artificial, elitizada, que irá cercear a liberdade do educando. É preciso deixar claro que, ao aprender a língua padrão na escola, o jovem vai continuar usando com seu amigos, colegas e parentes o tipo de linguagem que melhor lhe convier. É claro que haverá um alerta do professor para o aluno: – Quando você for escrever um requerimento, uma procuração ou um relatório, ou quando você pedir a palavra em uma reunião da sua empresa, use o português padrão ou culto.

O leitor já deve ter notado que defendo a primeira posição e eu poderia enumerar várias razões para isso. A correção deve ser feita na hora, mas sempre... sempre, com muita educação e jeitinho por parte do professor. Se o aluno afirma que 5 X 7 é 30 ou que a capital da Alemanha é Madri ou que a monarquia brasileira foi extinta no século XX, não devem os professores de matemática, geografia e história corrigir os alunos no ato? Por que o professor de português não pode corrigir o aluno? Garanto que o aluno ficará aternamente grato, se a correção for feita, como disse, com educação, carinho e amor.

Ao aluno mais renitente, que não aceita que a correção seja feita pelo professor de português, costumo lançar mão de outro argumento mais poderoso. Pergunto ao futuro  professor de português: – Se o seu filho lhe perguntar: Pai, você vai com nós no zoológico? – você corrigiria?   

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